quinta-feira, 5 de abril de 2012

Finalmente, a minha toalha!


Em um de meus primeiros posts, o "Os Afins dos Retalhos", contei que sou filha e neta de bordadeira da Ilha da Madeira. Pois então, já lá estive 3 felizes vezes, conhecendo cada cantinho daquele paraíso e visitando minha madrinha, seus filhos e noras, amigos queridos! E todas as vezes, tolinha que sou, jurei que traria bordados lindos para complementar e incrementar meu enxoval!

E creio que foi aí que descobri que só aqui no Brasil trabalhos manuais são desvalorizados, considerados artigos de 2ª e custam baratinho, praticamente o preço do material, se tanto! Na primeira viagem, dura, com dinheiro contado, entrei em uma das lojas oficiais de bordados e comecei a escolher toalhinhas de bandeja e porta-copos adoidada, até que a vendedora, percebendo a situação, chegou-se perto e perguntou se eu sabia que aqueles preços eram unitários. Imaginem a minha cara, querendo me esconder no primeiro buraco feito uma avestruz!

A segunda vez, já casada, situação um pouquinho melhor,  fui sonhando com a toalha de mesa que traria; e dessa vez, chegando lá, não tive coragem de pagar o que ela valia além de me assustar mais uma vez com o preço. Mas trouxe várias outras peças menores. Janeiro de 2011, lá vamos nós novamente, desta feita com as crianças; fizemos um passeio memóravel por uma das fábricas que me fez reviver momentos preciosos de minha infância na oficina de minha avó. E lá fui eu atrás da tão sonhada toalha! Preço? Nas nuvens! Podia pagar? Podia! Mas já fiquei imaginando o molho de tomate e os restos do chocolate da sobremesa espalhados pela peça e.... desanimei! Não acreditei mas acabei voltando, mais uma vez, sem a tão sonhada toalha. Paciência.

No dia em que fomos à exposição de Lego no Colégio Dante Allighieri, fomos até o vão do MASP xeretar a feirinha de antiguidades e fazer hora para almoçarmos. E não é que de longe, vejo a barraquinha abaixo com uma toalha semi-aberta por cima das peças? Corri atropelando quem estava na minha frente e a primeira pergunta foi: "qual a medida da toalha"? E não é que servia na minha mesa?


Claro que não acreditei, abrimos a toalha e medimos. Primeira felicidade! Examinei a toalha inteira; estava simplesmente perfeita, apenas com algumas manchas por ter ficado guardada muito tempo. Na realidade, a impressão que tive é que ela nunca havia sido usada!

Vista geral. A toalha ainda não foi lavada; portanto, não a passei para a foto para não correr o risco de fixar as manchas existentes.

Examinei mais um tanto, agora com olhos de quem cresceu vendo esse tipo de bordado ser feito. Longe da perfeição a que estava acostumada com minha avó e minha mãe, mas ainda assim, maravilhosamente bordada! Agora, a pergunta fatal: o preço. Quando a dona da banquinha falou, quase enfartei! O valor quase não pagava o preço do metro do linho e as linhas utilizadas! E como se não bastasse, ainda tinha os doze guardanapos, também bordados! Chamei o Sergio para vê-la, apenas pro-forma, pois a toalha já era minha.

Bom, só para explicar um pouco mais o valor da toalha: uma destas, com este tanto de bordado, demora no mínimo seis meses para ser feita por QUATRO bordadeiras ao mesmo tempo! Entenderam agora o porquê de custar uma verdadeira fortuna?

Bordados em Bastido ou Ponto Cheio

Crivo (os buraquinhos), um dos pontos de mais difícil execução

Ilhós, outra forma de "buraquinho"

Também crivo; as "bolinhas" são granitos

Detalhe do bordado com crivos, granitos e ponto cheio e ponto atrás

O guardanapo, em ponto cheio - ou bastido - e o caseado ao redor

Como tenho uma assistente especialista em manchas, já deleguei a ela a tarefa de, em um dia de muuuiiiita calma, lavá-la. Gostaria muito - e a primeira intenção pós-compra foi essa - de inaugurá-la no almoço de Páscoa. Mas como ainda estou dodói e não posso abusar, a estréia foi adiada para um pouco mais adiante.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Coisas de Mulher

Assim que o Sergio lembrou que era meu aniversário, correu comprar flores!

Esta aqui tem cheiro cítrico, uma delícia!


O assunto não é agradável, é íntimo, mas entendo que a única maneira que tenho para exorcizá-lo, esquecê-lo e ajudar meus pares é falando sobre ele.

Existem muitas coisas que ninguém nos conta, mesmo sabendo que iremos passar por determinada situação. Acho que no campo íntimo feminino isso ainda acontece com uma frequência alta demais para a época em que vivemos. Por exemplo, alguém nos prepara decentemente para uma gravidez e pior, para o que vem logo após o parto? Ninguém, absolutamente ninguém! Muito se fala sobre liberação da mulher - e muito já se andou nesse sentido - mas os "tabus" ainda são comentados à boca pequena, quando o são. Não tem sexóloga que dê jeito nisso!

Tudo isso para chegar no assunto do dia: miomas e suas consequências. Já havia ouvido falar de miomas, várias amigas tiveram, algumas chegaram a fazer histerectomia; mas como eu sempre fazia meus exames e o médico nunca comentou nada mais seriamente, para mim aquilo era um assunto distante. Mesmo quando há uns dois anos atrás ele comentou que meu útero estava um pouco aumentado, para mim não queria dizer nada. Afinal, tudo estava normal.

Erro? Talvez, mas já aprendi que quando se trata de corpo humano, o que não está lá pode aparecer em questão de dias; então, mesmo com acompanhamento, nem sempre consegue-se prever o que está para acontecer.

14 de dezembro de 2011 - "aquele" período do mês; normal. 28 de dezembro de 2011 - de novo!!!  Socorro, o que é isto, é o começo do fim? Bom, vamos tocando a vida, o Reveillon seria aqui em casa, muita coisa para fazer. O que eu não percebi é que o fluxo ao invés de diminuir, aumentava! Isso sim um erro - e grande!

Dia 2 de janeiro de 2012 - o que era aquilo, meu Deus? Não estava entendendo nada, até lembrar que nossa assistente havia comentado alguma coisa quando a menopausa dela chegou. Fui lá me "consultar" com ela e entendi que aquilo parecia ser normal.

Dia 3 de janeiro de 2012 - normal o caramba! E onde iria achar médico a essa altura do campeonato? Tinha consulta já agendada com o meu, mas só no dia 9! Bom, respira, pensa, respira, pensa.... liguei para o consultório, na esperança de falar com a secretária; ela estava lá e com uma boa notícia: o doutor já estava atendendo no laboratório e iria me ver na tarde seguinte; passou alguns remédios que comecei a tomar imediatamente. Lá fomos nós, Serginho apreensivo junto comigo. Ultrassom. Quando eu vi, fingi que não era comigo; afinal, eu só consigo adivinhar aquelas imagens e poderia estar vendo o que não existia. Até que ele aponta para o que eu estava vendo e pergunta: Sabe o que é aquilo?  Eu estava enxergando certinho: era um vaso capilar pulsando sangue incessantemente dentro do meu útero! Provavelmente após uma descarga hormonal fora do normal mais os DOIS miomas que estavam lá dentro, estava lá o digníssimo me exaurindo!

Anti-hemorrágico, anti-inflamatório, repouso e novo ultrassom para o dia seguinte. Dia 5 de janeiro, logo cedo: hemorragia!!! Medo, desespero e lá fomos nós correndo para o laboratório! Novo exame e diagnóstico: direto para o hospital para uma curetagem de emergência! Entrada no hospital - escabrosa, mas vou poupá-los dos detalhes que isso aqui parece mas não é filme de terror - sala de cirurgia, volta ao quarto e liberação no mesmo dia. Repouso e volta ao consultório no dia 9.

Estaria tudo certo se no dia 8, domingão de chuva, eu não começasse a sangrar de novo! Toca ligar para o médico que alterou toda a medicação; curiosamente, duas horas depois ele liga para saber como eu estou, mas sem se prolongar muito. Eu estava tão passada que, felizmente,  não me apercebi do tom de voz dele.

Segunda, 9 de janeiro, consulta. Não um médico, mas dois; a esposa também é ginecologista e foi chamada para acompanhar o ultrassom. Primeira pergunta: cadê o resultado da biopsia? E novamente, eu tão depressiva que não vi as rugas de preocupação em seu rosto! A secretária trás o fax e os dois deixam escapar um suspiro de alívio. Acordei do meu torpor, a doutora olha para mim e diz: "Graças a Deus, não é câncer!"

Câncer, como assim câncer, não era um mioma? O que eu não sabia era que o simples fato do sangramento ter continuado imediatamente após a curetagem deixou os dois em estado de alerta. Aquilo não era nada normal!

Bom, tudo certo, nada resolvido, passamos da sala de exames para a sala do médico. Hora de decidir o que fazer. Alternativa número um, tentar tratamento à base de hormônios para ver se o organismo reagiria; alternativa dois, fazer a histerectomia, caso meu nível de estresse com o problema já tivesse chegado ao limite. Como cirurgia é sempre cirurgia, optei pelo tratamento. O que ele não me disse era que junto com os hormônios eu teria que continuar com o anti-hemorrágico, o anti-inflamatório, teria que continuar de repouso razoavelmente severo, não poderia viajar etc etc etc. Esses detalhes eu só fui descobrindo com o decorrer do tempo!

Bom, 21 dias de hormônio, sangramento constante, nova menstruação. Quase morri, tive uma cólica imensa que nunca havia tido na vida a ponto de ter que ligar para o Sergio me buscar no GEL; e olha que de cólica eu entendo bem! Novamente, um fluxo muito forte! Nem preciso dizer que a anemia, ao invés de melhorar, só piorava! Senti um pavor imenso e corri para o laboratório em pleno sábado para fazer um novo ultrassom pois, na minha cabeça, o pesadelo estava voltando. Não, tudo dentro do "normal".

Nova consulta, novo ultrassom, nova conversa. Apesar da medicação, o sangramento manteve-se constante a ponto de fazer um coágulo quase do tamanho do próprio útero - daí a cólica, que foi na realidade uma contração para expulsar o tal coágulo. Diante do quadro, o médico foi sincero e disse que não havia como garantir que a hemorragia não se repetiria e ele indicava a histerectomia que, na minha cabeça, já era a opção que eu escolheria.

Tomada a decisão, precisaria passar por um cardiologista para avaliação. Eu e o médico queríamos operar na 5ª feira antes do carnaval, ou seja em pouco mais de uma semana. O Sergio não quis, pois ele iria viajar na quarta-feira de cinzas e não queria me deixar sozinha no pós-operatório. Como eu teria que tomar anticoncepcional até a cirurgia para evitar qualquer perda de sangue, uma vez que meu hematócrito estava baixo, começamos a encaixar as três agendas e a fazer contas; pela idade e pelo problema, não poderia tomar mais do que dois meses de remédio, sendo que a segunda caixa acabaria no dia 16 de março. Viagens do Sergio, viagens do médico, adivinhem que data sobrou? 15 de março, dois dias antes do meu aniversário!!! Passar aniversário no hospital? Pois é, nada havia a fazer a não ser brincar de contente!

Equipe de nutrição leu a ficha direitinho! Ganhei bolo!

Com direito a cartão!

Para acabar com qualquer dúvida, consultei também um endocrinologista. O caminho a seguir era aquele mesmo, com as mesmas ressalvas quanto ao anticoncepcional.

Bom, compasso de espera, sofrendo muito com os hormônios, perdendo noites inteiras de sono, alterações bruscas de humor. Uma semana antes da cirurgia, novo sangramento. Mesmo com a pílula, os miomas mostravam que haviam chegado para ficar; por outro lado, só reforçou o fato de que a cirurgia era inevitável. Meu médico viajando, o jeito foi pedir socorro para seu colega que cuida de emergências quando ele não está; foi de uma simpatia ímpar, deixou celular à disposição e me acalmou.

Contrabando de bolo para dentro do hospital!

Cirurgia de grande porte, campo aberto, recuperação a contento, parabéns no hospital, vinda para casa no dia 19 de março pela manhã. Repouso, comidinha no prato, fazendo só um tricozinho e um bordadinho básico, com 8 dias de cirurgia o que acontece? Sangue! Sério, não estou podendo ver vermelho na minha frente! Nova correria, direto para o pronto-socorro, lá estão me esperando os dois médicos que me operaram mais o médico de plantão. Novos exames, novo ultrassom; nada de errado na cavidade - eta desginação feia. Resultado: um ponto interno que ao ser absorvido pelo organismo "rasgou" o tecido em volta. Observação durante o final de semana, com nova visita ao consultório na segunda-feira seguinte.

E lá estão novamente meu médico e sua simpaticíssima esposa - quero trocar ele por ela, será que depois de 20 anos fica chato? Infelizmente fica! - novos exames e é isso mesmo, o pontinho abriu e está "pingando". Nada que uma semana de tampões diários com remédios cicatrizantes não resolva. Ainda não resolveu, mas já me livrei dos tampões - mas não dos remédios. Problema quase resolvido, vida quase retornando ao normal.

Presentes das visitas!